No dia 27 de setembro de 2024, Tito Lívio Barcellos Pereira, mestre em estudos estratégicos de defesa e segurança e membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), participou de uma análise na Sputnik Brasil sobre a proposta sino-brasileira para solucionar o conflito na Ucrânia. Tito destacou os pontos-chave da plataforma “Amigos da Paz”, que visa promover uma conferência internacional de paz. Ele enfatizou a importância do envolvimento dos países do Sul Global e os desafios envolvidos na implementação de uma solução diplomática para o conflito, especialmente em um cenário geopolítico complexo.
No dia 17 de junho de 2024, o pesquisador Tito Lívio Barcellos Pereira, membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), participou de uma análise à Sputnik Brasil sobre a cúpula da Ucrânia realizada em Buergenstock, Suíça, em 16 de junho de 2024. Durante a entrevista, Tito Lívio destacou que a cúpula, em vez de buscar uma solução definitiva para o conflito ucraniano, funcionou mais como um “balcão de negócios” para a indústria armamentista ocidental.
No dia 07 de junho de 2024, o pesquisador Tito Lívio Barcelos, membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), participou de uma análise à Sputnik Brasil sobre o discurso do presidente Vladimir Putin durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. Na análise, Tito Lívio comentou a ênfase de Putin na boa performance econômica da Rússia, sua defesa de alternativas ao dólar e as implicações dessa estratégia no contexto geopolítico, além de abordar a crítica à ofensiva diplomática da Ucrânia na cúpula de paz organizada pela Suíça.
Desde sua criação em 1894 e primeira edição em 1896, os Jogos Olímpicos da Modernidade estiveram insertos dentro do contexto sociocultural de seu tempo e expressaram o zeitgeist da Humanidade. Conflitos de classe, religiosos, raciais, sociais até a expressão moderna e secular de conflitos políticos sempre estiveram presentes – não poderia ser diferente em Beijing 2022.
A própria criação dos Jogos Olímpicos da Modernidade é espírito de seu tempo, sendo uma releitura do sentido dos Jogos Olímpicos da Antiguidade na esteira do Iluminismo e do Classicismo europeus. Seu principal criador, o francês Pierre de Fredy (1863-1937), Barão de Coubertin, era um nobre no país que houvera decapitado seu rei e sua rainha, vindo a idealizar como modelo para a recuperação da glória do passado a educação por meio do esporte formadora da aristocracia na monárquica Grã-Bretanha.
Os Jogos Olímpicos da Antiguidade, oficialmente de 776 a.C. a 393 d.C., foram um dos festivais pan-helênicos compostos pelas famílias aristocráticas que viviam nas cidades-Estado gregas, os quais, pelo reconhecimento intrínseco do pertencimento de todos a um só povo – os helenos, com mesma religião, mesma base geográfica, mesma organização social, descendentes dos mesmos deuses, etc. – foram realizados regularmente e, além das atividades objetivamente neles desenvolvidas – no caso de Olímpia, as competições individuais -, eram festas religiosas para adoração a seus deuses, semideuses e antepassados. Nasceram como os jogos funerários descritos no Livro XXIII da Ilíada cantada por Homero – como consequência, em respeito aos heróis mortos, sendo que não só o fogo sagrado representa a eternidade, mas cessam-se as hostilidades entre os helenos e estes não tomariam a iniciativa da guerra contra estrangeiros – a trégua sagrada.
Ao articular os interessados em esporte de diferentes países – geralmente por meio de suas famílias reais – viabilizando a fundação do Comitê Olímpico Internacional no final do século XIX, Pierre de Coubertin esperava com os Jogos difundir a paz e preservar a ordem social dos “antigos”, de forma que só poderiam participar dos Jogos aqueles que o fizessem “amadoristicamente” – as aristocracias – pelo puro desfrute da competição em busca de ser o mais forte, o mais alto e o mais veloz – um dos lemas originais dos Jogos Olímpicos da Modernidade. Em seu início, os Jogos se consolidariam como mais um diferencial de classe dentre aqueles que possuíam tempo livre para praticar esporte e aqueles que só viviam para trabalhar – e sem acesso ao esporte.
Pierre de Coubertin houvera visto, em sua infância, a derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana de 1870, a Comuna de Paris de 1871 e a formação da Terceira República Francesa a partir de 1870, eventos correlacionados que não colocavam a nobreza no lugar em que Pierre considerava que deveria estar. Por isso, foi buscar como modelo a educação esportiva britânica nos colégios que formavam a aristocracia.
Mais ainda, esperava que, com a recriação dos Jogos Olímpicos o envolvimento dos Países com o esporte “amador” e a própria realização dos Jogos impedissem e interrompessem as guerras! Não foi isso o que aconteceu durante a Primeira Guerra Mundial com os Jogos que seriam em 1916 e, muito menos, durante a Segunda Guerra Mundial com os Jogos que seriam em 1940 e 1944, não sendo reconhecidos os Jogos organizados pelos Países do Eixo no Japão em 1940. Fora isso, os Jogos só foram adiados uma vez em Tóquio 2020 para 2021 devido à pandemia de Covid-19.
Além de sua origem como diferencial de classe, os Jogos conviveram com questões religiosas como o abandono da participação de atletas quando a competição coincidia com dias consagrados, com questões sociais – os melhores maratonistas africanos corriam descalços -, com conflitos raciais – o boicote dos Países africanos aos Jogos enquanto perdurasse o apartheid sul-africano -, com conflitos políticos durante a Guerra Fria – inclusive nas quadras e nas arenas -, com a dopagem em busca da vitória a qualquer preço, etc.
Se os Jogos de Londres 1948 foram realizados para demonstrar que o Reino Unido se reerguia após a Segunda Guerra Mundial, os Jogos de Roma 1960, Tóquio 1964 e Munique 1972 foram realizados pelos Países derrotados na Guerra para se reapresentarem ao mundo. Além disso, são realizados tanto para business nos Países capitalistas mais desenvolvidos, quanto para apresentação e reposicionamento mundial dos Países com menor desenvolvimento relativo. Ainda, os Jogos Olímpicos e as Copas do Mundo de Futebol ocupam espaço intrínseco à realização do soft-power das Nações sendo momentos de conversações entre Chefes de Estado sem a pressão por resultados nem a rígidos compromissos – já começa aí uma certa “trégua”!
Não diferente, mas com diferenças, assim o contexto que polarizou os Jogos Olímpicos de Inverno de Beijing 2022. No auge da Guerra Fria, os Estados Unidos e as nações a eles aliadas vêm a boicotar explícita e totalmente os Jogos Olímpicos de Moscou 1980 devido a invasão soviética ao Afeganistão em 1979; em resposta, o bloco soviético vem a boicotar os Jogos Olímpicos de Los Angeles 1984 – não se esquecendo de que agora foram os Estados Unidos que invadiram Granada em 1983. Esses boicotes causaram vasta repercussão e comoção mundial e inúmeros discursos de revolta dos atletas ao verem seu treinamento de quatro anos ser desperdiçado – com pouca chance de estarem novamente em condições de competir em nível olímpico daí quatro ou oito anos.
Desta vez, os Estados Unidos anunciaram, em dezembro de 2021, boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Beijing sob a alegação de que a China cometeria genocídio e crimes contra a humanidade a determinadas etnias em seu interior, sendo seguidos no boicote por Austrália e Reino Unido, países componentes da recém-criada AUKUS e mais oito Países em sua órbita. O boicote diplomático não impacta na ausência esportiva dos atletas, mas na ausência das autoridades nacionais que prestigiariam o evento de forma a enfraquecê-lo politicamente, mas com o desenrolar dos fatos isso não aconteceu.
Noventa e um Comitês Olímpicos Nacionais estiveram presentes competindo nos Jogos e dentre as autoridades mais destacadas teve-se o presidente russo Vladimir Putin fortalecendo parcerias com o presidente chinês anfitrião Xi Jinping. Como pôde ser percebido, os Jogos Olímpicos de Beijing 2022 terminaram em 20 de fevereiro e o reconhecimento da independência das duas regiões autônomas do leste ucraniano pela Rússia aconteceu em 22 de fevereiro, assim como a invasão da Ucrânia veio a acontecer em 24 de fevereiro – após os Jogos. Se assim Putin viabilizou não interferir no andamento dos Jogos e em sua cobertura midiática (ROMANO-SCHUTTE, 2022, 52min), a Rússia não deixou de ser acusada pelo Comitê Olímpico Internacional pela quebra da trégua sagrada “Construindo um mundo pacífico e melhor por meio do esporte e do ideal olímpico”; a aprovação dessa Resolução pela Assembleia Geral da ONU em 2 de dezembro de 2021 instituiu a interrupção de todo conflito por sete dias antes e por sete dias depois dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Beijing 2022 (UNITED NATIONS…, 2021).
Finalmente, dos pontos de vista norte-americano e de seus aliados, o boicote diplomático aos Jogos de Beijing se insere na Guerra Fria 2.0 pela disputa da hegemonia política e comercial mundial; para a Rússia e para a China, seus movimentos estratégicos são a contrapartida para a contenção da expansão unipolar norte-americana na política, no esporte e na guerra, dentre outros.
Referências:
ROMANO-SCHUTTE, G. International Crisis: the Ukraine Question – Panel 2. São Paulo: Seminário Conjunto INCT-INEU & IPPRI/GEDES, 22 fev. 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UxxbOorCGrc . Acesso em: 28 fev. 2022.
UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Sport for development and peace: building a peaceful and better world through sport and the Olympic ideal: Resolution adopted by the General Assembly on 2 December 2021. New York, 2 dec. 2021. Disponível em: https://undocs.org/en/A/RES/76/13 . Acesso em: 28 fev. 2022.
* O texto foi escrito em 28 de fevereiro de 2022.
**Professor da UNESP; pós-doutorando no Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais; foi representante brasileiro no Comitê Intergovernamental para Educação Física e Esporte da UNESCO.
Imagem no texto: O pôster oficial dos Jogos Olímpicos de Londres 1948 contém as cenas dos impactos dos bombardeios sobre o Parlamento britânico (Palácio de Westminster) durante a Segunda Guerra Mundial. Por: UK National Archives.
Los dirigentes y excombatientes de las extintas FARC, en su calidad de signatarios del Acuerdo de Paz, ante la continuación del asesinato de los exguerrilleros en proceso de reincorporación –ya van 238 asesinados desde cuando se firmó el Acuerdo-, tomaron una decisión política valerosa, a pesar de lo dolorosa: iniciar una peregrinación hacia la capital del país, desde varios de los Espacios Territoriales en que han venido adelantando sus procesos de reincorporación en lo económicos, lo social y lo político. La iniciaron el 21 de octubre en Mesetas, después del asesinato y sepelio de uno de sus líderes conocido como ‘Albeiro Suarez’. A la misma se sumaron delegaciones de excombatientes con sus familias de Guaviare, Meta, Antioquia, Choco, el Eje Cafetero, La Guajira, Cesar, Arauca, Norte de Santander, Sur de Bolívar Y efectivamente después de cerca de dos semanas de desplazamiento colectivo, combinando caminatas y trayectos en vehículos, llegaron a la capital del país el 1 de noviembre.
Es importante resaltar la denominación que le dieron a esta movilización de protesta, más que justificada, una ‘peregrinación’, porque se trata en lo fundamental de una expresión usada en el ámbito religioso, especialmente por las tres grandes religiones monoteístas, el cristianismo, el judaísmo y el islamismo para dirigirse por parte de un grupo de creyentes hacia un santuario o un sitio de especial relevancia para ellos, pero también realizada por excluidos o expatriados, para significar con ello, los miembros de ese especie de ‘movimiento social en construcción de los firmantes del Acuerdo de Paz’, como lo recalcaron varios de sus dirigentes, que no se trataba de buscar la selva como en el pasado de su lucha armada, sino justamente darle la espalda a la selva y marchar hacia el centro del poder político del país, para pedir en forma pacífica, de ese poder político nacional soluciones, especialmente la de salvaguardar sus vidas, pero también la de dar respuesta a derechos básicos y demandas que no fueron incluidas en los acuerdos, como el tema de vivienda o tierra para los antiguos miembros de la guerrilla, pero ahora desmovilizados y en proceso de reincorporación, tienen todo el derecho como cualquier poblador rural.
La ‘peregrinación’ permitió, además, que muchos colombianos del común, situados en las rutas que siguieron los distintos grupos de caminantes, no sólo se sensibilizaran acerca de la situación que estaban viviendo, quienes le están jugando limpio a la paz, sino adicionalmente tener la oportunidad los excombatientes de explicar la gravedad del drama que han estado viviendo: En un sitio cercano a Villavicencio conocido como Pipiral, hicieron un acto simbólico de perdón por los secuestros masivos –conocidos como ‘las pescas milagrosas’- con una bandera blanca clavada en la tierra, en esa vía donde sembraron de temor a los viajeros en el pasado; también permitió que gobiernos territoriales igualmente se solidarizaran con los caminantes y contribuyeran a suministrarles sitios de alojamiento, además de apoyos para alimentación, siendo esto especialmente relevante en el gobierno de Bogotá. Pero también era simbólicamente relevante mostrar con la ‘peregrinación’ su condición de excluidos por las políticas de un Estado que justamente se comprometió en los Acuerdos de La Habana y del Teatro Colón a apoyarlos plenamente en su proceso de tránsito de alzados en armas a ciudadanos del común.
Ahora bien, hay que resaltar que estaba claro desde siempre que el proceso de implementación de los Acuerdos era y será, un campo de disputa política con cualquier gobierno que esté al frente de esta tarea –si se priorizaba la desmovilización y reincorporación colectiva o individual, con todas las implicaciones que esto conlleva; cómo iba a ser el enfoque de los programas de desarrollo rural con enfoque territorial, los conocidos PDETs; etc.-, por cuanto es probable que los miembros de las extintas FARC buscaran que en ese proceso de implementación se reflejara su propia visión política de cómo hacerlo y en igual sentido lo haría cualquier gobierno. Eso no es un tema novedoso, era algo plenamente previsible y mucho más cuando la Corte Constitucional al avalar la constitucionalidad y legalidad de los Acuerdos, estableció que era responsabilidad de los siguientes tres gobiernos la implementación, pero en concordancia con las políticas públicas de cada gobierno, dejando allí un margen de maniobra a los gobiernos, pero también de controversia acerca del enfoque de la implementación.
Los cerca de dos mil excombatientes y sus familias hicieron marchas en la ciudad de Bogotá, acompañadas por sectores ciudadanos y especialmente en la Plaza de Bolívar, planteando de manera clara y precisa las razones de su peregrinación, eso sí buscando ser una peregrinación sin alborotos, ni bulliciosa, y por supuesto sin acudir a la violencia. Y se produjo lo que pocos esperaban: el Presidente Duque aceptó recibir una delegación de la ‘peregrinación’. En esto hay que decirlo, jugaron un papel fundamental, el apoyo de la comunidad internacional –la Misión de la ONU, los embajadores de la Unión Europea y los países garantes-, el propio manejo de la ‘peregrinación’ y dos funcionarios del Alto Gobierno que han estado al frente de la implementación y la reincorporación, el Consejero Presidencial para la Estabilización y Consolidación, Emilio Archila y el Director de la Agencia de Reincorporación, Andrés Felipe Stapper, quienes estuvieron pendientes de la peregrinación y de buscar salidas positivas a la misma.
Efectivamente el viernes 6 de noviembre el presidente Duque recibió en la Casa de Nariño, junto con los funcionarios Archila y Stapper, a una delegación de siete líderes de la ‘peregrinación’ –uno por cada región donde están los procesos de reincorporación-, encabezada por Pastor Alape el delegado ante el Consejo Nacional de Reincorporación (CNR). Esta reunión, que fue un desayuno de trabajo, se llevó a cabo en un ambiente amable entre las dos partes y se llegaron a unos puntos de acuerdo. Pero lo más relevante, desde el punto de vista simbólico, fue el inicio del desmonte de la estigmatización que hasta el momento se ha dado a los firmantes del Acuerdo, expresado en el hecho mismo de la reunión con el jefe de Estado.
Es necesario resaltar la actitud positiva de apoyo a la reincorporación de los excombatientes, por parte del Presidente. Así como su compromiso en que se acelere el proceso de definir la asignación de tierras y vivienda para los firmantes del Acuerdo y una reunión con la Ministra del Interior, el Viceministro y el director de la Unidad Nacional de Protección (UNP) para revisar requerimientos de seguridad y los dispositivos estatales en esa dirección. Igualmente se acordó realizar siete reuniones territoriales, con la participación de los firmantes del Acuerdo en los territorios para valorar el proceso de implementación y las necesidades que tienen ellos y cómo darles respuesta. Igualmente insistieron los delegados de los firmantes del Acuerdo, en la importancia de estructurar un ‘sistema integral de reincorporación’ que articule la acción de los diversos entes estatales.
No hay duda que fue una iniciativa novedosa la adelantada por los firmantes del Acuerdo de Paz, donde lo más relevante va a ser comenzar a mostrarse como parte de ese ‘movimiento social en construcción de los firmantes’, que se manifiesta por sus derechos y demandas derivadas del Acuerdo, del cual fueron signatarios y acudiendo a formas novedosas de visibilización de las cuales está claramente ausente el uso de la violencia, ni simbólica ni real, mostrando así el contraste de anteriores hombres guerreros que ahora actúan como constructores de paz.
Alejo Vargas Velásquez é Director del Centro de Pensamiento y Seguimiento al Diálogo de Paz – UN