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Te vira! ‘Desprezo de Trump’ força Europa a arcar com custos, embora continente já pague a conta

No dia 17 de fevereiro de 2025, o doutorando em Estudos Estratégicos de Defesa e Segurança, Tito Livio Barcellos Pereira, e membro pesquisador do Centro de Investigação sobre Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), analisou na Sputnik Brasil as implicações da política externa de Donald Trump sobre a segurança europeia e a gestão dos custos do conflito na Ucrânia.

Tito destacou que a postura de Trump reforça uma redistribuição de responsabilidades no cenário internacional, pressionando os aliados europeus a assumirem um papel mais ativo na sua própria defesa. Para o pesquisador, a mudança de abordagem dos Estados Unidos gera um dilema estratégico para a União Europeia, que precisa equilibrar seus interesses de autonomia com a realidade de uma infraestrutura de defesa ainda dependente da presença norte-americana.

Segundo o pesquisador, a falta de um consenso dentro da UE sobre como lidar com essa nova realidade pode levar a um cenário de fragmentação política ou, alternativamente, ao fortalecimento de iniciativas como a Cooperação Estruturada Permanente (Pesco) para reduzir a dependência de Washington. No entanto, ele ressalta que esse processo será lento e exigirá investimentos significativos, além de uma reformulação das relações transatlânticas.

“Os americanos não abrirão mão de sua presença militar no continente europeu, assim como os europeus não querem se desligar totalmente dessa segurança. O que está em jogo aqui não são laços de amizade, mas cálculos estratégicos e interesses nacionais”, afirmou Tito.

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Trump ambiciona a Groenlândia para fazer frente à presença russa e chinesa na região

No dia 27 de janeiro de 2025, Getúlio Alves de Almeida Neto, membro-fundador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), publicou uma análise no The Conversation sobre o interesse renovado de Donald Trump na Groenlândia e sua relação com a presença russa e chinesa no Ártico.

O artigo explora a estratégia dos EUA para a região, as disputas geopolíticas entre Washington, Moscou e Pequim, e os possíveis desdobramentos da abordagem de Trump, que considera até mesmo coerção econômica ou militar para adquirir a ilha.

Confira a análise completa para entender como o Ártico se tornou um novo palco de rivalidade entre as grandes potências.

Guerra na Ucrânia: armas inéditas intensificam escalada entre Ocidente e Rússia

No dia 23 de novembro de 2024, Pérsio Glória de Paula, pesquisador e membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), analisou a escalada militar no conflito da Ucrânia. A introdução do míssil experimental russo “Oreshnik” sinaliza uma nova fase no embate entre Moscou e o Ocidente, levantando preocupações sobre segurança internacional.

Para ler a análise completa e entender as implicações dessa nova tecnologia, acesse o texto completo.

Quais as chances de uma nova Revolução Colorida na Geórgia?

No dia 13 de setembro de 2024, a professora Danielle Makio, membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), participou do Mundioka Podcast para discutir as tensões na Geórgia e os possíveis desdobramentos das eleições parlamentares de outubro.

O Serviço de Inteligência Externa da Rússia (SVR) apontou que a Geórgia pode estar no alvo de uma possível revolução colorida liderada pelos EUA, insatisfeitos com o atual governo georgiano. O SVR destacou ainda que ONGs pró-ocidentais estariam recrutando pessoas para monitorar as eleições, buscando descredibilizar o processo eleitoral.

O episódio contou também com a presença do historiador Rodrigo Ianhez, especialista em história da União Soviética.

Para ouvir o episódio, clique aqui: #444 Geórgia a caminho de mais uma revolução colorida?

Mapa Mundi: Trump x Kamala e a tentativa dos EUA em pausar a guerra de Israel

No dia 6 de setembro de 2024, o pesquisador Tito Lívio Barcellos Pereira, membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), participou do programa Mapa Mundi da SBT News. Na ocasião, ele comentou a disputa eleitoral entre Kamala Harris e Donald Trump, candidatos à Casa Branca nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Tito Lívio analisou a competição pelos Estados-chave e os preparativos para o primeiro debate presidencial, destacando a importância desses estados para a definição do vencedor nas eleições.

Para acessar a notícia, clique aqui: Mapa Mundi: Trump x Kamala e a tentativa dos EUA em pausar a guerra de Israel

UE e EUA não têm disposição para acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, dizem analistas

No dia 25 de junho de 2024, Getúlio Alves de Almeida Neto, membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE) e doutorando no Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, participou de uma análise na Sputnik Brasil sobre a recente decisão da União Europeia (UE) de enviar 1,4 bilhão de euros em lucro de ativos russos à Ucrânia. Getúlio avaliou que a situação revela a falta de disposição da UE e dos Estados Unidos para intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, já que o foco está na assistência militar à Ucrânia, e não em soluções diplomáticas.

Para acessar a notícia, clique aqui: UE e EUA não têm disposição para acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, dizem analistas

Neocolonialismo y geopolítica: estrategias ante la fractura del sistema internacional

Héctor Luis Saint-Pierre*

Publicado originalmente em El Cohete a la Luna

Parece obvio que, dada la fractura del sistema internacional y la posible confrontación entre la hiperpotencia y los nuevos polos de poder, las formas bélicas de resolver las brechas en la política internacional sean inevitables. Ante esta posibilidad, la presión se sentirá en todos los teatros de operaciones que ocuparán por completo el mundo. Pese al dramatismo de la situación que se avecina, puede ser una ventana de oportunidades para los países que aún permanecen en situaciones de neocolonialismo, dominio o influencia inevitable de alguna potencia en la actual correlación de fuerzas internacionales.

Pero la oportunidad, sin la preparación adecuada para su aprovechamiento, es inútil. Por lo tanto, aunque la actual crisis del sistema internacional presagia el nacimiento de un nuevo mundo, la acomodación de los países dependerá, en gran medida, de la capacidad de sus líderes para futurizar su posición y prepararse para luchar por ella. En este caso, la “lucha” puede no limitarse a la esfera diplomática, sino que puede requerir la preparación de la fuerza para combinar con la diplomacia la defensa del derecho al propio futuro.

La mayoría de los países del Sur Global se encuentran en esta situación y pueden verse atraídos para la beligerancia —por la fuerza centrípeta de uno de los polos que se disputan el mundo— o buscar neutralizar las fuerzas gravitacionales para mantener una posición pragmática de no-alineamientoEntrar en la órbita de uno de los centros centrípetos significa subordinar los intereses nacionales a los de ese centro. Algunos de los países serán seducidos, otros inducidos, convencidos, coaccionados o incluso obligados a caer en la órbita de un centro u otro. Otros percibirán, en la resistencia a esas atracciones, la ventana de oportunidad que se abre para defender sus propios intereses. Pero pocos la abrirán —el aprovechamiento de esa oportunidad no es para países débiles—.

El continente americano es una región del mundo en la que el imperialismo estadounidense se ha hecho sentir. Desde decisiones impuestas hasta el reemplazo de gobiernos, los países del continente han sufrido la centenaria interferencia estadounidense. Esta práctica insidiosa fue expuesta ante el Congreso de los Estados Unidos el 2 de diciembre de 1823 por el Presidente James Monroe, quien dio su nombre a la doctrina colonizadora, resumida en la frase “América para los americanos” (donde América somos nosotros y los “americanos” son solo ellos). Desde entonces, la potencia del norte se ha manifestado en el continente con injerencias políticas, sobornos, chantajes, invasiones, intervenciones militares punitivas, imposición de gobiernos y golpes de Estado para mantener su orden en la región — el que le permite satisfacer sus intereses económicos y políticos—. Desde el final de la Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos ha ido apretando las riendas estratégicas con el argumento de salvar a los países del comunismo. Así, democratizando por la fuerza, incluso mediante golpes de Estado, fueron ajustando los regímenes de dependencia empleando élites de sectores nacionales beneficiados por la dependencia, tanto en el ámbito político, económico, militar, cultural y, lamentablemente, académico, que interpretan el mundo con la epistemología de la metrópoli. Habría sido imposible mantener los grilletes de la dependencia sin la aquiescencia de estas élites nacionales nada nacionalistas.

La posibilidad de asumir un no alineamiento pragmático, que defienda los intereses nacionales sin satisfacer las demandas de los centros de poder, sean emergentes o en decadencia, requiere una neutralidad activa frente a las presiones para una postura beligerante en la confrontación sistémica. El posicionamiento internacional de neutralidad activa exige la posibilidad de mantener libertad de acción estratégica. Sin embargo, dado el grado de dependencia estratégica actual, ningún país de la región disfruta individualmente de esta libertad en grado suficiente para defender su neutralidad. Una alternativa para lograr suficiente espacio de libertad de acción estratégica es en un régimen de cooperación estratégica, por parte de al menos un segmento de la región. Esto se intentó, en cierta medida, a principios de la segunda década de este siglo con la Unasur y la creación del Consejo de Defensa Suramericano (CDS). Fue un momento de cierta homogeneidad ideológica en la región y de distracción estratégica por parte del hegemón en lo que llamé “la década del sonambulismo estratégico”, en la que se perdió persiguiendo a terroristas por todo el mundo. Pero cuando los vientos políticos cambiaron en la región, UNASUR y el CDS fueron rápidamente desmantelados, y no fue una casualidad.

La alternativa para aprovechar la ventana de oportunidad sería buscar libertad de acción estratégica que permita una cierta autonomía en la toma de decisiones de forma no confrontativa con los intereses del hegemón o, como diría Thiago Rodrigues, “no es ser totalmente dependiente de la hegemonía global estadounidense y además no es ser una potencia contra-hegemónica. Se trata de incrementar espacios de autonomía dentro de la actual arquitectura hegemónica del planeta”. Esto no será fácil y, considerando la temperatura bélica del planeta, tampoco será pacífico.

La generala Laura Richardson, jefa del Comando Sur, ha aumentado notablemente la frecuencia de sus visitas a la región para, en sus palabras, “proteger nuestras riquezas” (enfatizado mío) de los “competidores y adversarios” del gobierno estadounidense que están “aprovechándose de esta región a diario”, advirtiendo: “Lo que sucede en esta región en términos de seguridad impacta en nuestra seguridad — nuestra seguridad nacional en la patria—”. Las reservas naturales de litio, petróleo, oro, cobre y agua dulce en América del Sur son consideradas por Estados Unidos como una cuestión de seguridad nacional, con referencia al diferendo geopolítico con China, Rusia e Irán. No por otro motivo, se manifestó “muy emocionada”, porque ha sentido que podemos asociarnos mucho más y “hacer un trabajo en equipo mayor del que estábamos haciendo”, luego de su visita a la Argentina, donde le fue ofrecida una base que controle el paso entre los océanos Atlántico y Pacífico y su proyección a la Antártida, vendió 24 aviones multipropósito F16 de Dinamarca y recibió un pedido de 250 vehículos blindados Stryker. Todas estas regalías hacen que sea mefíticamente inequívoco que el Presidente Milei muestra una sumisión incondicional no solo a Trump, sino al diseño estratégico de Estados Unidos.

Sin embargo, la Argentina no es la única que adhiere dócilmente al diseño estratégico de la potencia hegemónica. La política exterior brasileña también está enyesada y quizás más comprometida con ese alineamiento estratégico al tener un general en la cadena jerárquica del Comando Sur. De hecho, desconozco si esa rigidez, esa sumisión vergonzosa, ha pasado por la necesaria autorización legitimadora por parte del Congreso Nacional. De no existir esta autorización, sería una muestra más de la autonomía militar y de que, pese a ser un instrumento del Estado, se atribuyen el derecho de tomar decisiones que comprometen la política exterior y la soberanía nacional.

En 2024 la región es distinta de aquella de 2012. Hoy los vientos son otros, además de neoliberales, son de extrema derecha, de derecha, de “izquierda de resultado”, que producen meros torbellinos que no consiguen potenciarse cooperativamente para convertirse en un huracán que defienda intereses nacionales o regionales. Con élites económicas nacidas y criadas en la dependencia e inculturizadas en Disney, a las que ni siquiera les importa la soberanía mientras sus intereses egoístas estén satisfechos; con medios de comunicación de masas que modulan las percepciones de la sociedad para ver las “ventajas” de la “buena” dependencia; con académicos resignados a ver la historia desde los balcones de la falsa neutralidad axiológica; con militares estratégicamente comprometidos con uno de los polos que aglutinarán las fuerzas en el doloroso parto del nuevo mundo, solo queda la amarga resignación de ver cerrarse otra ventana de oportunidad para aumentar la autonomía en la toma de decisiones y, al no luchar por la “neutralidad activa”, llorar otra generación de jóvenes, muertos en extraños campos de combate, defendiendo los intereses de quienes decidirán nuestro futuro por nosotros.

*Héctor Luis Saint-Pierre es doctor en Filosofía Política, profesor titular de Seguridad Internacional en el Programa de Postgrado en Relaciones Internacionales de la Universidad Estadual Paulista (UNESP). Fundador y líder del Grupo de Estudios de Defensa y Seguridad Internacional (GEDES).

Imagem: Casa Rosada. Por: Flickr.

Ucrânia se dispõe a pagar por ajuda militar dos EUA: ‘Desespero’, diz analista

No dia 18 de abril de 2024, o pesquisador Tito Lívio Barcellos Pereira, membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), participou de uma análise à Sputnik Brasil sobre a recente disposição da Ucrânia em pagar pela ajuda militar dos Estados Unidos. O especialista, doutorando em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp/Unicamp/PUC-SP), observou que essa decisão reflete uma situação de desespero diante das dificuldades econômicas e logísticas da Ucrânia para financiar sua guerra contra a Rússia.

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Um hegemon ultrapassado? Os EUA no conflito em Gaza 2023/2024 e os aspectos sistêmicos de poder no Oriente Médio

Rodrigo Augusto Duarte Amaral* 

Se compreendermos os EUA como ator hegemônico do sistema internacional desde o século XX, devemos conceber suas ações internacionais em direção à manutenção da sua posição privilegiada na ordem internacional. Suas ações intrusivas afetam os rumos do conflito no Oriente Médio (AMARAL, 2022).

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA desenvolveram um papel dominante no Oriente Médio motivados pela presença de reservas de petróleo e um aliado fundamental do Estado de Israel. A região se tornou espaço vital para o desenvolvimento de uma nova zona de influência, cuja contenção soviética orientou a base estratégica do país até 1990. Foi no pós-Guerra Fria que a “promoção de democracia” e desenvolvimento de condições para o pleno funcionamento do livre-mercado, passou a dominar o discurso estratégico dos EUA para o Oriente Médio. Primeiro na administração Clinton, que enfatizou a reforma econômica como prelúdio para a reforma política. Depois, sob a administração de G. W. Bush, quando após o 11 de setembro de 2001, a democratização no Oriente Médio emergiu como um objetivo explícito da política dos EUA com ênfase sem precedentes. (MARKAKIS, 2016). A necessidade de democratizar o Iraque, conter o islamismo político “antidemocrático” iraniano, valorizar a democracia Israelense, invadir, reconstruir e democratizar o Iraque e o Afeganistão, entre outras expressões.

No contexto contemporâneo, apoiar incondicionalmente Israel contra o Hamas apenas reforça a tradicional postura de sustentar politicamente e militarmente Israel a todo custo. Nas palavras do presidente Joe Biden (2023a):

“Discutimos [Biden e Netanyahu] como democracias, como Israel e os Estados Unidos são mais fortes e mais seguras quando agimos de acordo com o Estado de direito […] Nós garantiremos que os judeus e o estado democrático de Israel possa se defender hoje, amanhã, conforme sempre garantimos” (BIDEN, 2023a, tradução nossa).

Trata-se de uma postura intrusiva constante na história dos EUA no Oriente Médio. Conduzir, ou ao menos afetar o curso dos conflitos regionais, como fez indiretamente na Guerra do Afeganistão em 1980, na Guerra Irã-Iraque em 1980, na contenção israelense as intifadas palestinas desde 1990, na Guerra da Síria em 2014 e diretamente na Guerra do Golfo 1990, na Guerra do Afeganistão de 2001 e do Iraque 2003 e no combate ao Estado Islâmico desde 2015.

No entanto, se fazer presente militarmente, ou fornecer armas, não garante a segurança regional do Oriente Médio. Na verdade, o que assistimos é o oposto. A potencialização da conflitualidade. E a percepção global dos EUA como ator intervencionista em prejuízo a ordem regional é cada vez mais evidente.

Em mais de seis meses de conflito, não se trata apenas de considerar os EUA inábeis enquanto ator mediador para soluções pacíficas para Gaza, mas aquele que endossa o mesmo, enfatizando seu papel histórico de aliado e inabalável apoiador do sionismo israelense. Nem mesmo as mais de 33 mil vítimas civis (13 mil crianças) palestinas dos milhares de bombardeios e agressões militares israelenses foram capazes de alterar o posicionamento norte-americano. Único Estado a apoiar sem exceções os atentados israelenses em Gaza. Ainda como maior potência da ordem internacional, os EUA são o baluarte que asseguram as ações militares irrestritas de Israel em Gaza, aceitando bombardeamentos indiscriminados, evitando referenciar o direito internacional humanitário na sua justificativa da guerra, desconsiderando as vítimas civis palestinas, financiando diretamente Israel e participando indiretamente do conflito ao atacar alvos aliados ao Hamas, como no caso dos Houthis. Isso evidencia a responsabilidade norte-americana na permanência do conflito. Por isso, há quem questione a hegemonia norte-americana no Oriente Médio.

Dentro dos EUA, a insatisfação popular quanto à postura dos EUA diante da guerra em Gaza é evidente. Segundo pesquisa conduzida pelo PewResearch Center, ainda que exista prevalência no apoio popular norte-americano à Israel contra o Hamas, metade da população entende que a forma como Israel conduz a guerra é inaceitável. Sobre a influência dos EUA na guerra, há opiniões divergentes. Metade dos entrevistados são favoráveis (36%) e opõem-se (34%) ao envio de ajuda militar a Israel (o resto não tem uma opinião clara). Mas a opinião pública inclina-se mais fortemente a favor da prestação de ajuda humanitária aos civis palestinos em Gaza, com 50% a favor e apenas 19% contra. (SILVER et al., 2024). Ajuda essa que, por parte dos EUA, apenas foi ativada 150 dias após o início do conflito.

No âmbito da comunidade internacional,a China se posicionou de forma incisiva apelando por um senso comum global pelo cessar-fogo em Gaza e a escalada do conflito para outras localidades no Oriente Médio. O pronunciamento chinês veio dias após os ataques norte-americanos e britânicos contra alvos Houthis no Iêmen depois que o grupo atacou navios no Mar Vermelho. No veto dos EUA ao cessar-fogo em Gaza em fevereiro de 2024, os chineses ainda acusaram a responsabilidade dos EUA na continuidade no conflito dando sinal verde para continuidade do massacre em Gaza. É importante perceber que os atores que mais atingiram linhas diplomáticas foram atores do sul global. Com especial destaque para intermediadores regionais do Oriente Médio realizando o papel de intermediação e diálogo, como Egito, Jordânia e Catar. Países em desenvolvimento do sul global apresentando denúncias contra os crimes de guerra e humanitários perpetrados por Israel, como África do Sul e Brasil. O posicionamento brasileiro é destacado, visto a proatividade brasileira ao propor uma resolução no âmbito da sua presidência no Conselho de Segurança da ONU para o cessar-fogo imediato e o estabelecimento de corredores humanitários, vetado pelos EUA. Assim como o apoio fornecido a acusação de crime de genocídio à Israel contra a população palestina em Gaza no âmbito da Corte Internacional de Justiça. Tais manifestações diplomáticas revelam posturas plenamente opostas à fiel postura confirmativa dos EUA à Israel em Gaza.

Mesmo se abstendo da resolução do Conselho de Segurança da ONU de 24 de março de 2024 que estabeleceu um cessar-fogo provisório durante o Ramadan, os EUA não deram braço a torcer sobre o que para eles é mais importante: a condenação dos atos terroristas do Hamas[1]. No ato da abstenção, a embaixadora Linda Thomas-Greenfield afirmou: “não concordamos com todos os termos da resolução (…) alguns fatores chave foram ignorados, como nossa demanda por adicionar condenações ao Hamas”. No entanto, a reação imediata do Primeiro Ministro israelense Netanyahu foi negativa, afirmando que o ato de abstenção prejudicaria o principal objetivo contra o Hamas e a recuperação de israelenses sequestrados. Ainda tomou uma atitude diplomática, informando que não enviaria uma delegação de alto nível a Washington, DC, conforme vinha fazendo ao longo da guerra. Em resposta, O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que os EUA estavam “desapontados” com a decisão de Netanyahu. O episódio demonstra desorganização e falta de comunicação entre os dois principais aliados na guerra em Gaza.

No mínimo, este ruído exemplifica como os EUA parecem estar renunciando ao controle da situação, pressionado domesticamente por sua população e globalmente por outros membros da comunidade internacional.

Ao recapitular a presença norte-americana no Oriente Médio no século XXI, podemos dizer que os processos históricos revelam o desfavorecimento da sua condição hegemônica na região. Se o projeto dos anos 2000 se pautou na premissa de construir uma região liberal e democrática, sob a alcunha de combate ao terrorismo global, os EUA intensificaram as rivalidades regionais e impulsionaram a emergência de grupos insurgentes anti-ocidentais das suas mais variadas expressões. A década de 2010 no Oriente Médio, marcada por revoltas e revoluções que no ocidente se chamou de Primavera Árabe, se provou mais uma expressão de insatisfação da condição socioeconômica dos Estados da região, do que propriamente um levante democrático generalizado. O que se assiste na terceira década deste século é mais uma expressão manifesta de reatividade à presença ocidental histórica e seus proxies, como Israel. A reação do Hamas em 2023 à circunstância insustentável de vida em Gaza, determinada por um acordo desenhado pelos EUA em 1993 em Oslo, é um grito contra a ordem desigual e exploratória vigente naquele território.

Desde o início da segunda intifada, em setembro de 2000 até 7 de outubro de 2023, já 11 mil palestinos foram mortos, diretamente ou indiretamente por, consequência do conflito Israel-Palestina (ORCHA, 2024). Às vésperas do conflito, Gaza abrigava 2 milhões de habitantes, sendo quase 1,4 milhões de refugiados frutos da criação do estado de Israel em 1948, território altamente populoso, cuja taxa de desemprego atingia aproximadamente 47% e de insegurança alimentar 68,5% da população. Além disso, 95% da água estava imprópria para consumo humano e 80% do esgoto é despejado no mar, devido à falta de saneamento básico (DOS SANTOS, 2023). Resumindo, um espaço de extrema vulnerabilidade para o exercício da vida humana.

A insurgência de 7 de outubro restitui a insatisfação em Gaza mediante uma autodeterminação de facto palestina negada. No seu topo, indica o desastre da hegemonia norte-americana no Oriente Médio. Hegemonia esta que talvez nunca se completou, visto que os norte-americanos nunca atingiram o suposto objetivo de tornar a região em um espaço liberal-democrático nos moldes ocidentais. Ainda sim, a força dos EUA é o fator que “autoriza” Israel a agir historicamente de forma irrestrita em Gaza (e nos territórios ocupados na Cisjordânia). Portanto, afirmar categoricamente que a hegemonia norte-americana se esfacelou é equivocado. Talvez a concepção gramsciana de período de transição hegemônica (COX, 1981) seja qualificada para explicar o momentum dos EUA no sistema internacional. Há sim atores questionadores da hegemonia norte-americana: China, Rússia, Irã e outros. Todavia, além disso, e talvez mais relevante, existe dentro do próprio sistema-mundo ocidental manifestações de insatisfação quanto ao modelo capitalista-liberal conduzido pelos EUA. Expressões da inabilidade global de gerenciar a crise ambiental global, bem como as injustiças e violências na periferia do sistema, tal qual visto em Gaza.

[1] Para mais informações sobre a relação dos EUA com o Hamas, e a designação como grupo “terrorista” ver o texto: “Os EUA no conflito em Gaza 2023/2024: a preservação da relação especial com Israel”, deste mesmo autor, presente neste site.

*Rodrigo Augusto Duarte Amaral, Doutor em Relações Internacionais pelo PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP), Professor de Relações Internacionais na PUCSP, membro do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUCSP (GECI).

Imagem: Bandeira dos EUA e mapa do Oriente Médio. Por: Middle East Political and Economic Institute.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, Rodrigo Augusto Duarte. Dinâmicas de poder dos EUA por um Iraque pós-Saddam: a articulação entre o governo norte-americano e as elites do poder iraquiano na década de 1990. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP). 2022.

BIDEN, Joe. (2023a). USA. The White House. RemarksbyPresident Biden on the TerroristAttacks in Israel. Washington DC, USA. 10thoctober 2023. Disponível em <www.whitehouse.gov/briefing-room/speeches-remarks/2023/10/10/remarks-by-president-biden-on-the-terrorist-attacks-in-israel-2/ > Acesso em 28/03/2024.

COX, Robert. Social Forces, States and World Orders: BeyondinternationalrelationsTheory, Millennium. 10:2, 1981. Pp. 126-155.

DOS SANTOS, Isabela Agostinelli. Morte e vida palestina: a reorientação tática do colonialismo israelense na Faixa de Gaza. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP). 2023.

MARKAKIS, Dionysis. US DemocracyPromotion in the Middle East: The PersuitofHegemony. London; New York: Routledge. 2016.

UNITED NATIONS OFFICE FOR THE COORDINATION OF HUMANITARIAN AFFAIRS – OCCUPIED PALESTINIAN TERRITORY (ORHA). Data on casualties. 2024. Disponível em <www.ochaopt.org/data/casualties> Acesso em 28/03/2024.

SILVER, Laura atall. Majority in U.S. Say Israel HasValidReasons for Fighting; Fewer Say the SameAbout Hamas 57% express some sympathy for bothIsraelis and Palestinians. PewResearch Center.March 21, 2024.

Os EUA no conflito em Gaza 2023/2024: a preservação da relação especial com Israel

Rodrigo Augusto Duarte Amaral *

“Os Estados Unidos (EUA) estão ao lado do Estado de Israel, tal como temos feito desde o momento em que os EUA se tornaram a primeira nação a reconhecer Israel, 11 minutos após a sua fundação, há 75 anos[1].” (BIDEN, 2023a, tradução nossa). Foi com este discurso inicial que o presidente dos EUA, Joe Biden, revelou o posicionamento sólido e imutável dos EUA que marcou sua posição diante da escalada de conflitualidade entre o Hamas[2] e Israel a partir do dia 7 de outubro de 2023.

Naquele dia, na voz do presidente, os norte-americanos anunciavam: “o povo de Israel está sob ataque, orquestrado por uma organização terrorista, o Hamas” (BIDEN, 2023b, tradução nossa). Não seria a primeira vez que os EUA acusariam o Hamas de ser uma organização terrorista. A primeira vez foi em 1997[3], durante a administração Clinton, após o estabelecimento dos Acordos de Oslo de 1993, que foram explicitamente rejeitados pelo Hamas, por considerá-los restritivos para a autonomia e territorialidade palestinas. Os Acordos de Oslo consagraram o papel do Hamas como uma resistência a Israel e a posição conformista da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), inaugurando uma realidade que progressivamente amarraria as mãos do movimento islâmico palestino. De um lado o Hamas comandaria os maiores movimentos contra Oslo em Gaza, por outro lado Israel e os EUA com o endosso da Autoridade Palestina representada pela OLP iniciaram um processo de criminalização do grupo islâmico e opressão de protestos civis. Os atentados de bombardeamento suicida de fevereiro de 1996 comandados pelo Hamas foram a “gota d’água” para a designação do grupo enquanto terrorista (KRISTIANASEN, 1999).

Em 2005, com a inédita desocupação israelense (desde 1967) de Gaza, apoiada pelo presidente Bush à época crescera a expectativa de um território autônomo palestino de facto (ainda que muito reduzido se comparado com a Palestina pré-1948). No entanto, o que se assistiu em Gaza foi o predomínio do argumento contraterrorista que justificou o bloqueio israelense ao território palestino após a vitória do Hamas nas eleições legislativas. Naquele momento, EUA e União Europeia anunciaram que não apoiariam um território administrado por um “grupo terrorista”. Estabelecia-se, então, uma tendência de assimilação da identidade entre a Faixa de Gaza e o Hamas, supondo como um espaço que abriga o “terrorismo internacional” (DOS SANTOS, 2023).

Mas a quem interessa chamar o Hamas de grupo terrorista? Considerando, ou não, a perspectiva crítica de que “um terrorista para um, é um libertador nacional para outro” (ROBINSON, 2004, p.112), a posição oficial dos EUA em designar o grupo como terrorista deve ser lida como politicamente intencionada. Primeiramente, pois essa qualificação destaca os atentados comandados pelo braço paramilitar do grupo, enquanto esconde suas atividades sociais que ganha os corações e mentes de milhares, senão milhões de palestinos e simpatizantes. Em segundo lugar, pois ignora a concepção do terrorismo como tática e aponta como um atributo de determinado ator. Isso é conveniente estrategicamente para os EUA e Israel à medida que encaixa o Hamas em uma categoria de violência extrema que irracionaliza o inimigo, portanto “legitima” qualquer tipo de resposta (ROBINSON, 2004).

Historicamente, o objetivo norte-americano declarado oficialmente quanto ao Hamas consiste em “deter, transformar, marginalizar, ou neutralizar o grupo de tal forma que não represente uma ameaça para a segurança de Israel […] e outros interesses dos EUA – como um proxy do Irã, ou outros atores” (ZANOTTI, 2011, p.1)[4]. Portanto, cabe afirmar que a finalidade tática de acabar com o Hamas é elemento fundamental para solidificação do objetivo de fortalecer o maior aliado estratégico dos EUA no Oriente Médio: Israel; ao passo que enfraquece os inimigos regionais, o maior deles o Irã.

Após os ataques do Hamas a Israel, que de maneira inédita matou mais de 1.100 israelenses, os EUA não apenas se mobilizaram diplomaticamente em favor da autodefesa israelense como intensificaram seu apoio material ao contra-ataque de Israel em Gaza. Os EUA concordaram provisoriamente (por meio de um memorando de entendimento) em fornecer a Israel quase 4 bilhões de dólares por ano até 2028, considerando possíveis financiamentos suplementares para Israel em meio a sua guerra com o Hamas (MASTERS & MERROW, 2024).

Se inicialmente a comunidade internacional se mobilizou em favor de Israel em repúdio ao ataque do Hamas, conforme o conflito se estendeu, a questão do limite da guerra inverteu as interpretações acerca da legitimidade do contra-ataque israelense. Ao observar, por exemplo, a postura da comunidade internacional nas sequentes propostas de cessar-fogo em Gaza nota-se uma expressiva vontade geral pelo encerramento do conflito brecado pela postura relutante dos EUA. Na sua história, os EUA vetaram resoluções críticas a Israel mais do que qualquer outro membro do Conselho de Segurança da ONU. Os EUA vetaram ao menos 89 resoluções do Conselho desde 1945, sendo 45 dos seus vetos foram utilizados em resoluções críticas a Israel, e 33 diziam respeito à ocupação israelense dos territórios palestinos ou ao tratamento dado pelo país ao povo palestino.  Desde o início do conflito, os EUA vetaram três propostas para o cessar-fogo imediato. Na última oportunidade, Linda Thomas-Greenfield, embaixadora de Washington na ONU, disse que não era o momento certo para pedir um cessar-fogo imediato enquanto as negociações entre o Hamas e Israel não se encerrassem.

Mediante as respostas militares desproporcionais de Israel, novos fronts de batalha se abriram no Oriente Médio. Os principais atores que enfrentaram Israel contra os ataques em Gaza ficaram conhecidos como Eixo da Resistência. Trata-se de atores políticos e paramilitares que atacaram Israel como o Hezbolah libanês e os Houthis iemenitas, ou atacaram unidades militares norte-americanas como no caso dos mais de 150 ataques perpetrados pelas Unidades de mobilização popular iraquianas e grupos paramilitares sírios, ambos nos seus respectivos territórios. A resposta norte-americana a esses grupos revelou o envolvimento direto dos EUA no atual conflito no Oriente Médio. Tal cenário desenha linhas de alianças e inimizades claras, onde de um lado os EUA e Israel sustentam a guerra em Gaza ao passo que tentam inibir a insurgência reativa no resto do Oriente Médio. Por outro lado, revelam que o Hamas não está só, ao lado dele diversos grupos políticos islâmicos com braços paramilitares, apoiados (diretamente ou ideologicamente) pelo Irã preenchem o outro lado do campo de batalha.

A partir dos ataques contra unidades militares dos EUA no Iraque e os recorrentes ataques houthiscontra ao menos 10 navios de carga no mar vermelho, viu-se as primeiras incursões militares norte-americanas e britânicas no conflito, inaugurando a OperationProsperity Guardian destinada a responder os ataques houthis desde dezembro de 2023. Naquele instante, os EUA deixaram de ser agente passivo do conflito, atuando militarmente como aliado israelense contra os inimigos do “Eixo da Resistência”.

Seja como ator passivo ou ativo da guerra, os mais de seis meses de conflito revelam a sustentação da tradicional relação especial dos EUA com Israel. O país norte-americano se mostra como único porta-estandarte internacional de sustentação das ações militares israelenses em Gaza. Evidentemente, o papel americano é fundamental na manutenção do conflito. Faz vista grossa para os crimes de guerra israelenses que vitimam mais de 33 mil vítimas civis (13 mil crianças) palestinas que impedem não apenas um cessar-fogo da guerra, mas que se pautem novas discussões sobre autodeterminação e soberania palestina.

* Rodrigo Augusto Duarte Amaral, Doutor em Relações Internacionais pelo PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUCSP), Professor de Relações Internacionais na PUCSP, membro do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUCSP (GECI).

Imagem: The Nation. Por:Brendan Smialowski /Getty

[1]Recomendamos ao leitor acessar a histórica relação entre EUA e Israel desde sua criação: BAR-SIMAN-TOV, Yaacov. The United States and Israel since 1948: a “specialrelationship”?.DiplomaticHistory, v. 22, n. 2, p. 231-262, 1998; SCHOENBAUM, David. The United States and the stateof Israel. Oxford University Press, 1993; CHOMSKY, Noam. FatefulTriangle: The United States, Israel and the Palestinians. Boston: South End Press, 1983; THIES, Cameron G. The United States, Israel, and the search for internationalorder: Socializingstates. Routledge, 2013; REICH, Bernard; POWERS, Shannon. The United States and Israel. In: The Contemporary Middle East. Routledge, 2012. p. 99-119.

[2] Organização política islâmica palestina que governa o território de Gaza e que tem um braço armado paramilitar.

[3]Para mais informações sobre os grupos considerados terroristas segundo os EUA, acessar: <www.state.gov/foreign-terrorist-organizations/> acesso em 04/03/2024.

[4] O relatório de Zanotti (2011) foi produzido como documento oficial do US Congressional Reasearch Service, uma agência do poder legislativo federal localizada na Biblioteca do Congresso, atua como equipe compartilhada exclusivamente para comitês e membros do Congresso dos EUA.