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Trump, os caças do Bahrein e o próximo orçamento de defesa: por que os americanos falam pouco sobre isso?

Recentemente, o governo Trump decidiu ressuscitar no Congresso um debate, iniciado ainda sob a gestão Obama, sobre uma venda de caças F-16 da fabricante Lockheed Martin ao Bahrein. Na administração anterior, a pauta fora travada sob a alegação de violações de direitos humanos, cometidas pelo governo destinatário da compra. Apesar de críticas advindas de movimentos de direitos humanos dos Estados Unidos, a proposta deve ser encaminhada ao Legislativo, no qual sofrerá um processo de análise, revisão e votação. Mesmo tendo sofrido derrotas recentes importantes, como a tentativa frustrada de revogação do ObamaCare, é possível que, com a intensificação de pressões do lobby armamentista e mudanças estratégicas no texto a ser debatido, o equilíbrio de forças se desloque em favor de Trump nesse tema.
Embora noticiado como um acontecimento isolado, o caso das vendas ao Bahrein deve ser compreendido sob a luz de um cenário mais amplo, que envolve a análise das próprias políticas externa e de defesa americanas. Também sob apreciação legislativa encontra-se a proposta orçamentária do governo Trump para o ano de 2018. Essa última prevê a destinação de um montante de US$639 bilhões à defesa, representando um aumento de US$54 bilhões em relação ao último orçamento submetido por Barack Obama. Os demais setores federais, incluindo educação, saúde e transportes, sofreram cortes severos. O orçamento do Departamento de Estado e os fundos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), responsável pela promoção de ajuda externa humanitária, foram reduzidos em 29%.
Tal opção, que deve ser encarada como política, e não econômica, não distancia Trump da história da política norte-americana, de forma geral. A desproporção entre o orçamento das agências relacionadas à defesa e segurança nacional, e aquelas direcionadas à diplomacia, tem sido uma tendência, desde a consolidação da máquina de guerra estadunidense, nos anos 1940. Da mesma forma, o presidente, que foi eleito com promessas de tornar o aparato de defesa “grande outra vez”, encontrou amplas demonstrações de apoio entre representantes das Forças Armadas e das companhias militares privadas. Alguns desses últimos exercem, inclusive, cargos de relevância no staff da administração republicana.
O fato de o cálculo de Trump ser influenciado por interesses econômicos ou institucionais domésticos não o torna uma anomalia. Por outro lado, a mensagem que se passa é a de que os EUA adentrarão mais um período de sua história no qual a defesa, a segurança e o gerenciamento de intervenções militares não serão debatidos seriamente. Em outras palavras, o país continuará a se valer predominantemente da face militar para se relacionar com o mundo, sem, entretanto, oferecer uma estratégia militar concreta. Sobressaem-se, novamente, as motivações econômicas e paroquialistas que movimentam o jogo político estadunidense. Não surpreende, portanto, que, prestes a completar cem dias de mandato, a administração republicana não tenha sequer divulgado pistas claras sobre a condução dos teatros nos quais as tropas americanas permanecem inseridas, como Iraque e Afeganistão. Nesse sentido, a elevação dos gastos não se traduz, necessariamente, em melhora do desempenho tático do país que, apesar de possuir o maior investimento militar do mundo, não consegue se ver livre de fantasmas que remontam à derrota no Vietnã.
Como no caso dos caças, a proposta orçamentária deve ainda ser aprovada pelo Congresso, mas muitas vozes têm se mostrado alarmadas pelos possíveis impactos dos cortes nos instrumentos diplomáticos. O secretário de defesa, James Mattis, chegou a afirmar que, se a ajuda externa fosse cortada, precisaria “comprar mais munição”, indicando uma visão relativamente crítica à propensão demonstrada pelo atual presidente de solucionar problemas não militares com mecanismos militares. Ainda assim, alguns Republicanos, como o deputado do Texas Mac Thornberry, consideraram o orçamento proposto para a defesa como insuficiente, em relação às demandas atuais das Forças Armadas. O debate está longe de um encerramento, aparentemente. Mas boa parte da população civil permanece fora dele.
De qualquer modo, as ações de Trump, tal qual sua eleição, são reflexo das percepções de uma maioria para quem, segundo pesquisa recente divulgada pelo índice Gallup, a instituição militar é, entre as principais instituições norte-americanas, a mais confiável. A de menor confiança, por seu turno, é o Congresso, que vem abaixo de veículos como jornal e televisão, por exemplo. Não obstante, quando questionados sobre o papel global desempenhado pelos Estados Unidos, 57% dos participantes (e 54% dos eleitores de Trump), acreditavam que o país deveria “lidar com seus próprios problemas e deixar os outros lidarem com os deles da melhor forma possível”. Para essa parcela da população, não parece que o reforço à militarização e o mote eleitoral supostamente menos intervencionista de Trump, “America First”, caiam em contradição. Esse tipo de comportamento, por sua vez, é representativo da relação ambígua da população americana com a guerra e as Forças Armadas, descrita por Wright Mills, no século XX.
Segundo o sociólogo, os Estados Unidos que “nasceram pela violência” também enxergavam os militares como parte de uma elite parasitária, cuja existência representava um “mal necessário” e potencial ameaça à liberdade individual de exercício da violência. Assim, era necessário que esse grupo se mantivesse sob o controle civil e distante dos negócios da política. Por outro lado, a mesma força de repulsão foi convertida, historicamente, em admiração, à medida em que o suposto distanciamento entre militares e política fora associado à a-politicidade e, consequentemente, à moral e incorruptibilidade. De volta ao século XXI, o discurso de rejeição ao político continua a encontrar plateias, embora os representantes das Forças Armadas não sejam os únicos a se utilizar dele: presidentes multibilionários também o fazem. Não por acaso, uma venda de caças ou uma elevação significativa nos gastos de defesa parecem estar acima de quaisquer suspeitas. “It’s all about business”, afinal.
Clarissa Nascimento Forner é mestranda em Relações Internacionais pelo PPGRI San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.
Imagem: Memorial Day Ceremony May 24 2012. Por: Steven L. Shepard, Presidio of Monterey Public Affairs.

Os ataques israelenses à Síria: Putin estaria sabendo?

Durante os seis anos que já duram a guerra civil síria, dezenas de ataques aéreos contra alvos do Hezbollah foram atribuídos a Israel. Até agora, o governo israelense se recusou a reconhecê-los ou negá-los. Entretanto, os ataques realizados em 17/03 foram confirmados por Israel. Tanto o Primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, como o Ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, declararam publicamente que Israel atacou a Síria para defender seus interesses estratégicos, ou seja, impedir que o Hezbollah obtenha mais armamento para seu arsenal no Líbano.
Os referidos ataques foram os primeiros a serem confirmados oficialmente pelo porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF). Embora não se tenha esclarecido quais eram os alvos, um comboio do Hezbollah, uma fábrica e um armazém de armas foram atingidos e um comandante do Hezbollah foi morto no ataque aéreo, segundo relatórios da mídia árabe alegaram.
Uma série de questões surge a partir da pouca informação que foi publicada. Primeiro, por que Israel mudou sua política e de repente reconheceu um ataque? Uma possível resposta pode estar associada à necessidade de uma explicação oficial após um grande estrondo ouvido em cidades em Israel e na Jordânia, devido à interceptação de um míssil sírio. As forças de defesa aérea da Síria lançaram um míssil de longo alcance na tentativa de derrubar os caças de Israel. O míssil foi lançado muito tarde para pôr em perigo os aviões, mas poderia ter caído em áreas civis dentro de Israel e, portanto, foi interceptado por outro míssil. A forte explosão foi ouvida em Jerusalém e partes dos mísseis caíram na Jordânia, significando que alguma explicação tinha que ser dada. Contudo, uma declaração sobre a interceptação de um míssil teria sido suficiente. A decisão de assumir a responsabilidade pelos ataques também foi feita pelo Primeiro-ministro e pode ter sido decorrente de outras razões.
Exatamente uma semana antes dos ataques, Netanyahu estava em Moscoudiscutindo a guerra da Síria com o presidente russo Vladimir Putin. Poucos detalhes foram divulgados sobre o que foi dito na reunião, mas Netanyahu afirma ter deixado claro que Israel não concordaria com a presença militar iraniana na Síria, uma vez que o grupo Hezbollah é diretamente financiado pelo Irã para atuar na Síria e no Líbano. A preocupação do primeiro ministro israelense relaciona-se com declarações recentes do governo iraniano sobre a intenção de intervir diretamente com as forçar armadas na guerra da Síria.
Se essa demanda será ou não atendida por Putin ainda não sabemos, mas Netanyahu retornou a Jerusalém com a impressão de que o presidente russo leva as preocupações de Israel a sério, de acordo com suas próprias palavras. Um ataque realizado por aviões de guerra israelenses sobrevoando a Síria pode ser uma indicação de que há um entendimento com a Rússia sobre operações israelenses dentro da área protegida pela Rússia.
Os ataques de sexta-feira assemelham-se muito ao padrão dos ataques de dezembro de 2015, em um subúrbio de Damasco, no qual nove operários trabalhando para o Irã foram mortos, incluindo Samir Kuntar, o assassino de uma família israelense libertado por Israel em uma troca de prisioneiros em 2008. Este ataque ocorreu apenas três dias depois que Netanyahu e Putin se falaram por telefone, e foi o primeiro a ser realizado depois que a Rússia colocou um escudo de defesa aérea em grandes áreas da Síria, incluindo sua capital.
Era improvável que, em dezembro de 2015 e na sexta-feira (17/03/2017), Israel tivesse atacado a Síria, dentro da zona de operações da Rússia, se achasse que o Kremlin reagiria contrariamente. O fato de que foi o exército sírio que lançou um míssil contra os aviões de combate de Israel, enquanto existem sistemas de defesa russos muito mais avançados implantados nas proximidades, para proteger o regime sírio, também pode indicar que Assad e seus protetores russos não estão coordenados. Assad está ciente de que Putin tem discutido o futuro de seu país com outros líderes mundiais, incluindo Netanyahu. Sua tentativa tardia de derrubar aviões israelenses poderia ser um sinal de frustração em sua impotência de controlar seu destino e o espaço aéreo sírio.
Karina Stange Calandrin é doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisadora do GEDES.
Imagem: Meeting with Prime Minister of Israel Benjamin Netanyahu, March 2017 . By: Kremlim, Moscow.

The Greatest Showman

While everybody is worried about Trump’s administration’s "alternative facts" [lies], and cross-checking information so truth can come out, the President and the Republican Party have already introduced to Congress several important bills which had much less coverage than the alleged Bowling Green Massacre or Ivanka Trump’s fashion line imbroglio. I will then stress seven of the most crucial bills that can change (not in a good way) U.S. national trajectory.
The first one is H.R.354 – Defund Planned Parenthood Act of 2017. In general, Planned Parenthood is a nonprofit organization that provides reproductive health care for men and women. One of its mottoes is to help people with “no ceilings, no limits”, which in practical terms also means that Planned Parenthood offers guidance on abortion options. Except in cases of rape and physical illness, the referred bill proposes this change: “For the one-year period beginning on the date of the enactment of this Act (…) no funds authorized or appropriated by Federal law may be made available for any purpose to Planned Parenthood Federation of America, Inc., or any affiliate or clinic of Planned Parenthood Federation of America, Inc., unless such entities certify that Planned Parenthood Federation of America affiliates and clinics will not perform, and will not provide any funds to any other entity that performs, an abortion during such period”. It is important to note that all the 138 sponsors of this bill in Congress are from the Republican Party.
The second one is H.R.861, simply a one line bill – “To terminate the Environmental Protection Agency” on December 31, 2018. It may be a brief proposed act but if we look at the bigger picture we might find other Presidential and Republican moves that can jeopardize the environment, such as the executive order to revive the Keystone XL and Dakota Access oil pipelines (to which the major environment risk is the possibility to imperil water supplies from Lake Oahe – South Dakota – a reservoir that forms part of the Missouri River) and the recently voted to have no force or effect bill H.J.R.69 that would undo the prohibition to hunt certain wildlife species for sports, rather than for subsistence. Also, the promise of more jobs have been the administration’s rhetorical blank check to weaken regulations related to the energy sector industry: first, the H.J.R. 38 that disapprove “the rule submitted by the Department of the Interior known as the Stream Protection Rule”, which was established during the Obama Presidency to add new restrictions to coal development and require extraction companies to monitor the quality of waterways that could be affected before, during or after mining operations; and second the H.J.R. 41 that put without effect the Securities and Exchange Commission rule relating to "Disclosure of Payments by Resource Extraction Issuers", which enhanced the transparency of the energy sector by requiring the extraction companies to report on payments made to a foreign government or the Federal Government on the commercial development of oil, natural gas, or minerals. About the latter, I can only think of the implications this lack of transparency may have on U.S. foreign policy, specially its relation with oil-rich countries like Russia and the Gulf States.
Lastly, there is the simple but brutal H.R.899 “To terminate the Department of Education” on December 31, 2018. This bill in conjunction with the H.R.610 – “To distribute Federal funds for elementary and secondary education in the form of vouchers for eligible students and to repeal a certain rule relating to nutrition standards in schools” create a huge gap in public education – it not only repeals the 77 Fed. Reg. 4088 which is an 81 pages long document establishing guidelines for nutritionally balanced meals in schools, without proposing other substitutive policy recommendation, but mainly starts to introduce Ms. DeVos’s project of privatizing schools. In her words, “We must open up the education industry — and let’s not kid ourselves that it isn’t an industry — we must open it up to entrepreneurs and innovators”.
President Trump (along with the majority of the Republican Party) and his Counselor Kellyanne Conway are the products of our time. They know exactly how to feed the media with (dis)information that doesn’t touch the relevant issues of the country but still produces enough noise to keep people busy. Some say that people are being hysterical without reason about Trump’s actions. If you are adept of a U.S. with an “all way down” neoliberal ideology and a world with more xenophobia and resentment between cultures, that might be true. In any way, one of media’s (supposed) most important jobs is to inform. But the media (in the U.S. as in Brazil) can be deceiving and not at all “disinterested”.
Expanding this interplay between the media (or the lack thereof) and the federal government, Brazil also has its own particular showman. While in the U.S. the most common means to divert the public is to create artificial news or “post-truth” statements, in Brazil the hypocrisy is built using taxpayer’s money to finance government’s propaganda to defend the pension reform. Lies were always part of politicians menu; but we have already seen where this world of extremely conservative ideas being imposed either through distraction or propaganda leads us. And it is not a good one.
Bárbara Motta is a P.h.D candidate in International Relations at "San Tiago Dantas" Graduated Program and currently a student in Georgetown University. She is also a researcher of the International Security and Defense Study Group – GEDES.
Image: Donald Trump. By Gage Skydmore.

THE SIEGE OF JADOTVILLE: UM RETRATO CINEMATOGRÁFICO DO USO DE RECURSOS COERCITIVOS EM MISSÕES DE PAZ

As operações de paz instituídas sob a autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU) demonstraram, nos últimos anos, sua capacidade de mobilizar recursos militares em busca da manutenção da paz. No entanto, a organização enfrentou diversos problemas estratégicos em suas missões, ilustrados pelo o cerco à companhia irlandesa na cidade de Jadotville, na República do Congo. A produção cinematográficaThe Siege of Jadotville, dirigida pelo cineasta Richie Smyth e lançada no ano de 2016, retrata as dificuldades enfrentadas pelos militares irlandeses enviados à República do Congo no início da década de 1960.
Inserido no contexto dos movimentos de independência de países africanos, o Congo tornou-se independente da Bélgica em 1960. Contudo, o novo Estado na África Central enfrentou severas turbulências em seus primeiros anos: o conflito civil deflagrado na antiga colônia belga evidenciou o interesse de grupos separatistas na província de Katanga, que se opunham ao governo do primeiro-ministro Patrice Lumumba. As tensões eram ainda mais acirradas por conta de interesses belgas em manter o controle de operações de mineração na província separatista.
Frente à crescente instabilidade na região, as Nações Unidas autorizaram o envio de tropas internacionais ao território congolês. A Operação das Nações Unidas no Congo (ONUC), instituída através de mandato expedido pelo Conselho de Segurança em julho de 1960, possuía como objetivos iniciais apoiar a retirada das tropas belgas do território congolês, auxiliar o governo local a garantir a manutenção da lei e da ordem, assim como providenciar auxílio técnico às forças armadas congolesas. Na prática, diversas foram as dificuldades enfrentadas pelos chamados “capacetes azuis” em cumprir tais disposições. Em especial, as forças de paz enfrentaram a insuficiência de recursos materiais e humanos e a impossibilidade de estabelecer comunicação com outros postos da ONUC.
O longa-metragem enfatiza a carência das tropas irlandesas em recursos bélicos e apresenta a impossibilidade das tropas internacionais atuando sob a bandeira da ONU de empregar a força para garantir o cumprimento dos objetivos alinhavados pelas potências mundiais. A companhia irlandesa é cercada por grupos hostis formados por mercenários e combatentes locais, que superam numérica e belicamente as tropas enviadas pela comunidade internacional. As forças da província de Katanga contavam com peças de artilharia e suporte aéreo, que ampliavam sua capacidade bélica frente às tropas internacionais. Após seis dias de cerco, o sargento Pat Quinlan negociou a rendição do grupo, evitando a morte dos soldados sob seu comando. Os soldados seriam então mantidos prisioneiros pelas forças de Katanga com o objetivo de forçar um acordo de cessar fogo embaraçoso às autoridades internacionais.
A missão das Nações Unidas no Congo seria marcada pela incapacidade em alcançar os objetivos traçados inicialmente. Com efeito, o Conselho de Segurança, através da resolução 199-1964 transferiu a responsabilidade pelo conflito no Congo à União Africana, requisitando aos demais Estados que interrompessem a intervenção no país. Os militares irlandeses, após serem libertados pelas forças da província de Katanga, foram recebidos como covardes em sua terra natal, sob o estigma de uma missão incapaz de cumprir com seus objetivos. Foi apenas no ano de 2005 que os soldados da Companhia A foram reconhecidos como heróis de guerra.
A produção cinematográfica enfatiza a restrição ao uso de meios coercitivos pelas tropas internacionais em missões de paz. Com efeito, a discussão sobre a possibilidade do uso da força para ações além da legítima defesa é recorrente no espaço decisório das Nações Unidas. Durante o período da Guerra Fria, as esparsas iniciativas para a manutenção da paz autorizadas pelo Conselho de Segurança limitavam o recurso à força à proteção das tropas em casos de ataques iniciados pelas demais partes do conflito. Contudo, com o descongelamento do espaço decisório e a ampliação no número de operações de paz, identificou-se a necessidade de reconsiderar os princípios tradicionais de condução das missões sob a égide da ONU. Assim, são tensionadas as interpretações quanto a imparcialidade, a necessidade de consentimento das partes beligerantes e, sobretudo, ao uso de recursos coercitivos para o cumprimento dos mandatos das missões de paz.
As operações de paz, outrora instituídas majoritariamente sob o abrigo do Capítulo VI da Carta das Nações Unidas, possuem responsabilidades ampliadas a partir da década de 1990. É possível identificar a partir de então uma tendência favorável à aprovação de operações permitidas a utilizar recursos coercitivos para garantir o cumprimento dos mandatos, sob abrigo do Capítulo VII.
Como sinal das novas características das missões de paz é possível indicar o abrigo da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti sob o Capítulo VII da Carta de São Francisco. Contemporaneamente, a criação de uma Brigada de Intervenção, sob o mandato da Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República Democrática do Congo, reforça a percepção da ampliação das responsabilidades das operações de paz instituídas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
É preciso, contudo, ponderar quais seriam as implicações do uso da força por tropas internacionais mobilizadas para uma missão de paz. A ampliação das capacidades coercitivas de uma tropa internacional em uma missão de paz pode implicar a percepção do surgimento de uma nova parte beligerante no conflito, aprofundando as tensões inerentes à situação. Assim, enfrenta-se um dilema entre a inação das tropas e os resultados controversos do uso de meios coercitivos em missões de paz. Torna-se necessário, então, discutir regulações precisas quanto ao uso de meios coercitivos pelas tropas em terreno, de forma a minimizar a ocorrência de ações militares com impactos negativos sobre a população local.
Leonardo Dias de Paula é graduando em Relações Internacionais na Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus de Franca e pesquisador do Gedes.
Imagem:United Nations Assistance in the Congo (ONUC). Por: United Nations Photo.

Os temas que ocuparão a agenda da Segurança Internacional

Para evitar confusões e tentando ser econômico, propedeuticamente distinguirei aqui “Segurança Internacional” (SI) como definiendum das pesquisas ou disciplinas acadêmicas da área das Relações Internacionais (RI) que têm como objeto a segurança internacional (si). A “si” é constituída fundamentalmente pela tensão provocada por imagens e percepções geradas nas unidades políticas da sociedade internacional que visam, dessa forma, manter ou quebrar a estabilidade das relações de força entre elas, podendo assim reforçar, dificultar ou colocar em risco a governabilidade nacional, regional ou mundial.
Dito isto, confesso-me positivamente surpreendido pelo notável crescimento, posterior a um breve interregno de esquecimento, da área de SI dentro dos estudos de RI nos últimos anos. O interesse despertado pelo tema entre os profissionais pode ser constatado no expressivo número de trabalhos apresentados na área de SI nos Encontros Nacionais da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI).
Embora motivo fundacional da ONU e forte incentivo para a criação dos primeiros cursos de RI no mundo, a si deixou de ser objeto prestigiado nas análises de RI, especialmente depois do desmoronamento da antiga URSS e o consequente Fim da Guerra Fria, quando alguns, seduzidos pela imagem de uma Paz mundial e a declarada vitória do capitalismo — subtraindo o motivo do conflito que dinamiza o devir da humanidade —, decretou-se precipitadamente o Fim da História. Mas a história é teimosa e não se submete aos caprichos dos pesquisadores. O conflito é inerente à sociedade e continuará a fornecer o oxigênio para a combustão que empurra a humanidade ao seu futuro ignoto, o que não é necessariamente negativo.
Durante a Guerra do Golfo (02/08/1990 — 28/02/1991), as bombas “inteligentes” desintegraram o sonho de uma paz duradoura. Essa conflagração obrigou a convocar as presas os especialistas que agora teriam a tarefa de analisar a nova configuração das relações de forças que definiria a fisionomia da si em permanente mutação. A novidade consistiu em que os que até pouco tempo rivalizavam pelo controle global bipolarmente, agora apareciam do mesmo lado, com o beneplácito da ONU e a satisfação da mídia internacional. Esse sim foi um divisor de águas na si e não o 09/11 como tantos defendem. Novamente, os inefáveis precipitados alcunharam o contradictio in terminis “monopolaridade” para se referir à inequívoca dissolução da bi para a multipolaridade reinante naquele momento, talvez intentando resignificar o velho “imperialismo”. Os internacionalistas, tão afeitos às modas e aos neologismos, não demoraram em adotar e empregar extensa e irrefletidamente esse termo absurdo em si mesmo.
Os acontecimentos do 11/09 foram de fato um fortíssimo incentivo para os estudos de SI (pela extensa cobertura da mídia e a notória falta de especialistas), mas, ao mesmo tempo, representou no cenário internacional o ingresso na década do que chamei o “sonambulismo estratégico” da hiperpotência que esqueceu da China como objetivo prioritário da sua projeção estratégica para se lançar numa intempestiva guerra contra fantasmas. O resultado previsível dessa obnubilação estratégica foi a complexa situação atual de insegurança internacional em que submergiram o mundo. Mas por sua vez, e possivelmente aproveitando o cochilo estratégico da hiperpotência, China estendeu suas pretensões estratégicas seguindo parcimoniosamente o planejamento de longo prazo que caracteriza sua política externa.
Quando o espanto ante a percepção do atoleiro estratégico no qual tinha se metido no Afeganistão e no Iraque acordou à hiperpotência do pesadelo que confunde vitória militar com o êxito político, a China tinha atravessando África e chegado ao Oceano Atlântico com investimento em infraestrutura e criando instituições. No último Forum on China-Africa Cooperation (FOCAC), a China se comprometeu a investir nesse continente 60 bilhões de dólares para desenvolver infraestrutura e industrialização e 60 milhões especificamente em assistência militar gratuita. Com esse montante, espera-se que a União Africana possa constituir e manter o seu exército regular com capacidade de pronta resposta para crises e apoio às operações de Paz da ONU na região. Por sua vez, no continente americano, além de sua incisiva e consistente inserção comercial e econômica em praticamente todos os países, conseguiu que na Constituição da Nicarágua constasse a construção do canal interoceânico para barcos Pós-Panamax e Super-Panamax. Caso se efetive, como consta nos planos, esse canal mudará radicalmente a geopolítica mundial.
O panorama da si apresenta na atualidade uma serie de níveis e contextos superpostos em camadas interconectadas extremadamente complexos como para enriquecer os estudos da SI nas RI. Numa primeira camada, mais visível e que diretamente afeta à população e à opinião pública internacional, encontram-se, entre outras, preocupações com condições de comover a si, como o clima e meio ambiente, as migrações forçadas, o crime organizado e o narcotráfico, o tráfico de pessoas e armas e o terrorismo (não necessariamente nessa ordem). Algumas teorias defendem que o aquecimento global e o consequente derretimento das calotas polares poderão acabar com países insulares; que secas prolongadas, incêndios, geadas e outras catástrofes poderão cobrar caro em vidas humanas e migrações forçadas, evidenciando a contradição entre a acumulação desenfreada do capital e a proteção do meio ambiente. Outro fenômeno internacional já visível e que chama a atenção da SI são as grandes migrações forçadas pela crise econômica e/ou as guerras, particularmente da África e do Oriente Médio em direção à Europa. Estes movimentos populacionais provocam um impacto imediato nas condições de vida urbana das grandes cidades, deixando em descoberto a falta de preparação e de políticas públicas para atender os refugiados. Tudo indica que as ondas de refugiados continuará e possivelmente aumentará, acalentada pelo agravamento das crises econômicas e o flagelo das guerras que se vislumbram no horizonte histórico.
As ações terroristas se encontram na mesma camada e se é certo que seu impacto midiático e social é enorme, este fenômeno pertence ainda à camada epitelial da si. A pertença ao aspecto mais superficial da si não justifica as análises simplórias e os comentários meramente opinativos recorrentes nos meios de comunicação. Estes fenômenos exigem estudos acadêmicos aprofundados e de fato representam boa parte dos artigos científicos de SI nas RI.
As Missões de Paz (MP) que parecem ter assumido definitivamente a investidura formal do Capítulo VII da Carta da ONU, pertencem a uma camada mais profunda. Trata-se de um fenômeno que envolve vários tipos de atores internacionais, como Estados, ONU e organizações regionais, ONGs e outras instituições formais e permanentes (como forças armadas) operando em difícil e não sempre pacífica combinação. As MP constituem o emprego oficial de forças armadas sob mandato da ONU, mas esse instrumento é formado por profissionais altamente treinados em uma grande gama de missões para enfrentar os riscos que elas envolvem. A forma, intensidade, meios, táticas e estratégias que serão empregados são motivo de grande preparo e de familiaridade com outras línguas e meios de combate.
Nesta camada de análise da si também se encontram as numerosas guerras e que atualmente estão ocorrendo simultaneamente em várias partes do mundo. Algumas delas manifestam-se na forma de guerra convencional, outras na modalidade assimétrica, outras em forma de “primaveras” (outra forma das guerras atuais) em algumas os efetivos são irregulares e na maioria se empregam táticas varias, entre as quais as terroristas. Em quase todas elas, atores não estatais assumem papéis importantes que devem ser considerados na análise, como grupos irregulares, mercenários, empresas privadas de segurança e também de defesa, inefáveis mercadores da morte oferecendo seus produtos e, com uma efetividade implacável, a mídia monopolizada. O emprego de veículos não tripulados VNTs, que projetam a letalidade dos Estados em outros territórios, em ambientes juridicamente ambíguos e guerras no declaradas, acoberta com um manto de impunidade claros crimes internacionais. Longe de condenar esses crimes, a mídia internacional os comemora. Todos estes elementos introduzem componentes de dificuldade, tanto na análise, quanto na hora de negociar a paz, particularmente com atores não reconhecidos como interlocutores válidos. Com o objetivo de diminuir o custo político que resulta da morte dos soldados dos exércitos nacionais em guerras de difícil compreensão para a cidadania, alguns Estados tem empregado, de maneira cada vez mais sistemática, empresas privadas e o uso extensivo de veículos não tripulados. Estes expedientes, que procuram jogar um manto nebuloso sobre a legalidade de intervenciones militares não aprovadas pela ONU, tencionam o direito e a ética internacionais.
Algumas destas guerras poderiam ser explicadas, com suas diferentes matizes e caraterísticas visíveis, como sendo manifestações abertamente bélicas do calor provocado pela fricção das capas tectônicas mais profundas do sistema de correlação de forças do sistema internacional. Essa fricção resulta do permanente reajuste das estaturas estratégicas das hiperpotências que se apresentam como eventuais polos gravitacionais dos arranjos de força mundiais e que poderão definir a polarização nas próximas décadas. A política externa chinesa no Mar da China, na periódica reivindicação territorial e de projeção marítima, assim como a Rússia na Ucrânia e no seu surpreendente protagonismo na guerra contra o Estado Islâmico na Síria e, mais recentemente, no Iraque, são parte do jogo de emissão de imagens e percepções com que dialogam as grandes potências. Neste nível de placas tectônicas, onde as grandes potências calculam e projetam as imagens das suas estaturas estratégicas para ocupar os espaços globais, é onde se fraguam as matrizes que formatarão o sistema de forças internacionais e pautarão os temas da SI. Debaixo delas, apenas o incandescente magma onde a força, a economia, a política, a cultura, a religião e visões de mundo se misturam ainda amorfas para a ciência e que apenas se revelam para algum filósofo desvelado ou para algum deus que ainda se interesse pelo desenrolar do drama humano.
Todos os temas relatados aqui brevemente assumirão gravidade nos próximos anos e exigirão dos profissionais de RI sérias e profundas pesquisas. Resta insistir em que a topografia da profundidade das diferentes camadas que articulam a si não significa que existam apenas alguns temas profundos e outros supérfluos na SI. Na verdade, a profundidade dos trabalhos da SI não é relativa à camada escolhida da si, mas à adequação metodológica, à pertinência teórica, à consistência lógica e, sobretudo, à seriedade profissional e autonomia intelectual com que se aborde o assunto. A dignidade epistêmica de um trabalho científico não é dada pelo objeto, mas pela forma do tratamento.
Héctor Luis Saint-Pierre é diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI), professor titular de Segurança Internacional do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP), professor titular do curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (UNESP), e pesquisador e membro fundador do GEDES.
Imagem: Guerra e Paz. By: Ministério da Cultura.

Exploring Peace in the Global South: partnerships and challenges*

There are few opportunities to explore peace in its most different dimensions. In the so-called American Midwest lies a distinguished institute where senior researchers, practitioners, visiting researchers, and young scholars exchange not only their passion, but also their diverse views and understandings about peace. Supporting the expansion of the Peace Studies research agenda, the Kroc Institute for International Peace Studies at the University of Notre Dame organizes every year a one-week Summer Institute for faculty, bringing together participants from different regions of the world. They have already accumulated vast experience organizing this academic week for the last eight years.
“Teaching Peace in the 21st Century” was the theme of last year’s event held from June 13 through June 17 and headed by Professor George A. Lopez. The picture above shows the reunion of the 2016 participants, faculty, and organizing members. In this endeavor towards teaching, exploring, and strengthening Peace Studies, the 2016 edition of the event was jointly sponsored by the Kroc Institute and the United States Institute of Peace (USIP). Also, with the purpose of encouraging applications from all over the world, the International Studies Association (ISA) contributed by advertising this activity among its fellow’s members.
In order to participate, each institution must form a team of three faculty members. Representing graduate and undergraduate programs, sixteen faculty teams attended the 2016 edition. It should be noted that the event is not restricted to professors; in fact, administrative staff is also welcome at the Summer Institute. Last year, for example, the stimulating diversity of participants included deans of different universities. Moreover, even though the majority of the attendees were from American universities, teams from Afghanistan, Brazil, Canada, England, Nigeria, Sri Lanka, and Uganda joined that edition, producing a very dynamic and rich work environment.
The participants selected to attend the Summer Institute are advised to have an “action plan” at hand. More specifically, each institution is required to delineate their main expectations and goals beforehand in order to work and further develop them throughout the week. Trying to fulfil the different needs and aims of all teams, the Summer Institute presents the “whereabouts” of Peace Studies, indicating its origin, its current state, and also its expected future. This means the schedule is diverse, but more importantly, it is very intense. The visiting team must be prepared to work and participate in a full-time week.
During the week there are plenty of opportunities to understand what has already been done and what ought to be in terms of the study and practice of Peace Studies. The activities vary from indicating how to develop a Peace Studies syllabus, train students to work in the context of peacebuilding interventions, advertise master courses, exchange e-learning tools, share experiences of conflict transformation, to build networks in order to enhance opportunities for the development of the study and practice of peace. The Summer Institute also offers sessions about current prominent topics in Peace Studies, outstanding publications in the field of peace research, and practical experiences considering pedagogical and administrative procedures to develop and implement a Peace Studies program. To put the event together, the Summer Institute is staffed by members of Kroc’s core faculty, Ph.D. students, visiting researchers, and staff members from the Kroc Institute and USIP. They fruitfully engaged attendees in academic discussions, and also helped to consolidate partnerships during the free time between sessions (breakfast, dinners, and camping). Moreover, the value of the event also stood in the fact that participants belong to institutions of different capacities: academic and professional. This year’s further included seminaries and centers dedicated to the development of research as well as to educating professionals in peacebuilding and conflict management skills.
In a nutshell, Peace Studies was primarily inspired and developed by the work of Johan Galtung, founder of the Journal of Peace Research in 1964 and member of the Peace Research Institute of Oslo (PRIO). This important cluster also motivated the emergence of other centers around the world such as in the Department of Peace and Conflict Studies (Uppsala University), the Stockholm International Peace Research Institute, the Geneva International Peace Research Institute, the Tampere Peace Research Institute, among others. Galtung’s work has immensely contributed to the advancement of the understanding of peace in its different dimensions: negative and positive. On the one hand he defines negative peace as the “absence of violence of all kinds” – “direct violence”, “structural violence”, and “cultural violence”[1] (Galtung, 1969; 1990) –, on the other he states that “by positive peace we mean a cooperative system beyond ‘passive peaceful coexistence’, one that can bring forth positively synergistic fruits of the harmony” (Galtung, 1996: 61).
In pursuit of peace, Peace Studies developed to incorporate myriads of perspectives and knowledge from different disciplines, taking on a multidisciplinary research approach. International Relations, Political Science, Sociology, History, Psychology, and many other fields of knowledge are potential areas in the peace research path. Altogether, it can result in a normative research (Höglund; Öberg, 2011: 4) or, said differently, it can be characterized as a discipline that seeks alternatives to the cessation of violence and the achievement of peace by improving current human condition (Wallesteen, 2011). Moreover, the research agenda of Peace Studies also implies paying attention to local communities not being restricted, therefore, to the international arena.
It is important to emphasize, however, that even though peace research has been slowly expanding worldwide, it is still dominant in centers of Western developed countries, where more resources to build prominent networks and to implement action plans are available. Yet, violence is predominantly present in developing countries. The immediate question arises as to whether or not the peripheral centers have a role to play towards the achievement of peace. We would firmly argue that they do indeed. Already committed to the reduction of violence, the developing world centers should explore their potential to provide their own responses to the causes of violence. To this endeavor, the Summer Institute could be seen as an extraordinary first step. The possibility of further professionalization and capacity-building, as well as, the opportunity to foster future partnerships with well-established centers.
Considering the rising role of Brazil in the international arena and its location in South America, it seems that the Brazilian graduate programs are still shy or reluctant to this field of research. The question arises again as to whether or not they have a role to play. The Rede de Pesquisa em Paz, Conflitos e Estudos Críticos de Segurança (Network of Peace, Conflict and Critical Security Studies – PCECS network) is a response to this challenge. On top of this, the International Relations Graduate Program “San Tiago Dantas” (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) and the young team of scholars of the International Security and Defense Study Group – GEDES have also been exploring the options to the development of peace research in Brazil. They attended the Kroc Summer Institute to learn how to incorporate Peace Studies as a new approach and research agenda at Sao Paulo State University (UNESP). This initiative will add substantive efforts to what was achieved at the Federal Latin America Integration University (UNILA) where a Chair of Peace Studies was created. Perhaps, these are the preliminary steps to cross the bridge to a new era where those who are interested in pursuing this path may feel encouraged to institutionalize the actions that have already been taken place around the country in a more informal way.
For more information about the 2017 Summer Institute, please see: http://kroc.nd.edu/news-events/events/2017/06/19/1891
References
GALTUNG, Johan. “Violence, Peace, and Peace Research”, Journal of Peace Research 6-3, (1969): 167-191.
______. “Cultural Violence”, Journal of Peace Research 23- 3, (1990): 291-305.
______. Peace by Peaceful Means: Peace and Conflict, Development and Civilization. Olso: PRIO International Peace Research Institute/London: SAGE, 1996.
HÖGLUND, K.; ÖBERG, M. “Doing empirical peace research”. In: HOGLUND, K.; OBERG, M. (eds.). Understanding Peace Research: methods and challenges. Nova Iorque: Routledge, 2011.
WALLESTEEN, Peter. “The Origins of Contemporary Peace Research”. In: HÖGLUND, K.; ÖBERG, M. (eds.). Understanding Peace Research: methods and challenges. Nova Iorque: Routledge, 2011.
Vanessa Braga Matijascic is a visiting professor of International Security at the Federal University of Sao Paulo (UNIFESP), Professor of International Relations at Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) and researcher of the International Security and Defense Study Group – GEDES UNESP. E-mail: vanessa.matijascic@gmail.com
Natália Bueno Schenoni is a visiting researcher at the Kroc Institute for International Peace Studies, a former visiting researcher at the GIGA Institute of African Affairs, and a doctoral candidate at the University of Coimbra, Portugal. Natália is also “unespiana”, having completed her bachelor’s degree in International Relations at UNESP – Franca, Brazil. Her research interests include conflict transformation, transitional justice, reconciliation, and Sub-Saharan Africa. E-mail: na.bueno@gmail.com; ndacosta@nd.edu
Image: Summer Institute for Faculty, University of Notre Dame, 2016.
*The opinions expressed in this article are the author’s own and do not reflect or represent the view of any institution mentioned in the text. Above all, we are grateful to our colleagues, Marina Vitelli and Juliana Bigatão, who dedicated their time reading and sharing their opinions on a preliminary version of this article.
[1]According to Galtung, direct violence can take many forms and can be understood as all kinds of harm to the body, mind, or spirit in a physical or verbal way; structural violence as the harm embedded in a set of structures, both physical and organizational, and represented by ordinary or mandated ways of doing things that prevent the satisfaction of basic human needs (Galtung, 1969); and cultural violence as “[…] those aspects of culture, the symbolic sphere of our existence – exemplified by religion and ideology, language and art, empirical science and formal science (logic, mathematics) – that can be used to justify or legitimate direct or structural violence”(Galtung, 1990: 291). Moreover, the author further explains that “direct violence is an event; structural violence is a process with ups and downs; cultural violence is an invariant, a ‘permanence’, remaining essentially the same for long periods, given the slow transformations of basic culture (Galtung, 1990: 294).

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